quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Questionando TDAH - Hoje levanto a bandeira de que temos que escutar e tentar entender nossos filhos e nossos alunos em sua singularidade. Elika Takimoto

TDAH e Ritalina - "No início do tratamento eu estava mega feliz ao receber o diagnóstico que meu filho era doente. Afinal, é muito mais fácil lidar com uma “doença” que diz respeito apenas ao funcionamento de um corpo e para a qual existiria uma pílula milagrosa, do que escutar o que um adolescente está dizendo com seu comportamento. "




Por Elika Takimoto - publicado neste blog em 20.outubro.2016

Eu (mãe) cometi um erro no passado. Depois de tantos professores reclamarem da desatenção do meu filho, levei-o a 3 psiquiatras que prescreveram Ritalina. (É difícil quem não conheça alguém que já usou o medicamento, não?) Diagnóstico? TDAH. (Alguns sintomas de quem tem isso: apresentar dificuldade para prestar atenção e passar muito tempo sonhando acordado; parecer não ouvir quando se fala diretamente com ela; distrair-se facilmente ao fazer tarefas; esquecer as coisas; mover-se constantemente ou ser incapaz de permanecer sentada; falar excessivamente;...). Mas ele se concentra jogando videogame! Mas para fazer coisas que gosta todas as pessoas se concentram, me explicou o doutor. Ok. Hideo usou a medicação por um ano e nada melhorou. No início do tratamento eu estava mega feliz ao receber o diagnóstico que meu filho era doente. Afinal, é muito mais fácil lidar com uma “doença” que diz respeito apenas ao funcionamento de um corpo e para a qual existiria uma pílula milagrosa, do que escutar o que um adolescente está dizendo com seu comportamento. 
Durante o “tratamento” do Hideo, encaminhei 5 alunos para psiquiatras já entrando na onda de encaminhar-ao-psiquiatra-como-método-pedagógico. Cada um desses alunos possuía características diferentes tendo em comum o fato de não gostarem de física e não prestarem atenção nas minhas aulas. Os 5 voltaram medicados com... ritalina! Isso me fez pensar... Calma. Peraí. O doping está legalizado??? Eu (professora) cometi também um grande erro! Em vez de eu ter olhado cada aluno a partir da sua história e de sua singularidade, fui o agente de um processo de homogeneização e silenciamento de adolescentes considerados “diferentes”. Tempos modernos onde não mais há alunos com problemas (problema é algo que pode ser resolvido) e sim alunos com transtorno (transtorno é algo que precisa ser eliminado, suprimido). Desacreditei totalmente em qualquer diagnóstico sobre a suposta “doença”. 
Hoje levanto a bandeira de que temos que escutar e tentar entender nossos filhos e nossos alunos em sua singularidade. Percebi em tempo que o medicamento oferecido dizia muito mais sobre mim do que sobre eles.
Essa postagem é um convite a todos que conheçam alguém que faz uso dessa droga, repensar sobre a “melhora” nesse processo e se não estão ajudando (em nome de um ideal de normalidade determinado(por quem?)) a calar um determinado conflito existencial que deveria ser o propulsor no ato de educar.




Elika Takimoto é Doutora em Filosofia pela UERJ, mestre em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia pela UFRJ, graduada em Física pela UFRJ, professora de Física do CEFET/RJ. Autora de diversos livros. 
e-mail: elikatakimoto@gmail.com 
site:http://www.elikatakimoto.com/ 





http://tdahcriancasquedesafiam.blogspot.com.br/2016/10/questionando-tdah-hoje-levanto-bandeira.html

Elika, parabéns pela determinação e lucidez em compartilhar esta importante experiencia e posição atual, mostrar erros e acertos, bem humanos. Precisamos muito de mais e mais depoimentos deste teor neste nosso país medicalizado e medicalizante.
(Marise Jalowitzki)

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