segunda-feira, 5 de outubro de 2015

TDAH - Ritalina, uma perigosa "facilidade" para os pais

Wagner Raña, Pediatra e Psiquiatra, ABB - Associação Brasileira de Cuidados do Bebê, Especialista em Terapia Conjunta Pais e Bebê, Professor de Psicossomática e Psicanalítica do Instituto Sede Sapiensis (Sociedade Mundial)
Livro TDAH Crianças que Desafiam
"Depois que uma criança é rotulada como TDAH não é mais tratada como normal. E uma vez que uma criança é vista como anormal e doente mental...
(...) 
"A verdadeira questão é como vamos fazer para destruir o monstro que criamos. Fomos enganados em acreditar que as forças do mal residem dentro de nossas crianças. Fomos induzidos a acreditar que é uma loucura coletiva. As verdadeiras forças do mal residem em nossas escolas e escritórios médicos. Nossas crianças agem de forma que incomodam os adultos. Temos que ensinar agora aos adultos que a solução é com eles." Fred Baughman (pág 102 - Cap. 6 - DSM V )

Outra coisa, as crianças falam assim para mim: “eu sou um TDAH” ou “eu sou o da Ritalina”. Elas se colocam nesse lugar de alguém doente, com um déficit. A vida deles vira isso." (Ranna)

Sempre considerei muito triste isto! Devido à cobrança e discriminação social, a criança-adolescente, no afã de ser aceita e querida, "cola" o rótulo em si mesma. O que não ocorre só com elas! Muitas vezes os pais, afim de que o filho seja compreendido, correm desesperadamente atrás de um um laudo, de um diagnóstico "assinado", "comprovando" que a criança "sofre do transtorno", QUANDO O QUE SE FAZ NECESSÁRIO É A COMPREENSÃO, O ACOLHIMENTO E A ACEITAÇÃO DAS DIFERENÇAS, tanto pela escola, como a família e a sociedade em geral!

Temos de nos desvencilhar dessa ilusão de homogeneização! Nenhum indivíduo é igual a outro e é justamente nisso que reside a beleza de existir!
Marise

06.outubro.2015
http://tdahcriancasquedesafiam.blogspot.com.br/2015/10/ritalina-uma-perigosa-facilidade-para.html

Ritalina, uma perigosa "facilidade" para os pais

Especialista condena o uso do remédio sem antes considerar as necessidades da criança; Brasil é o 2º maior consumidor mundial
por Ingrid Matuoka — publicado 04/10/2015 16h35, última modificação 05/10/2015 00h25

A busca por soluções fáceis, o diagnóstico equivocado e a incompreensão dos pais acerca da agitação natural das crianças elevou o Brasil ao posto de segundo maior consumidor de Ritalina do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos.
O dado, do Instituto Brasileiro de Defesa dos Usuários de Medicamentos, é alarmante. Ritalina é o nome comercial do metilfenidato, medicação que promete tratar o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, ou TDAH, e os principais consumidores da droga tarja preta são crianças e adolescentes.
Segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), de 8% a 12% das crianças no mundo foram diagnosticadas com TDAH, e a suspeita dos pais de que os filhos tenham o transtorno é o principal motivo que os leva aos médicos. Em 2010 foram vendidas 2,1 milhões de caixas de metilfenidato. Em 2013, foram 2,6 milhões.
A maioria das crianças diagnosticadas com TDAH não são nada além de crianças agitadas

Para conversar sobre o uso indiscriminado de Ritalina e suas consequências, CartaCapital entrevistou Wagner Ranña, médico psiquiatra com experiência em saúde mental da infância e docente do Sedes Sapietiae, um instituto dedicado à saúde mental, à educação e à filosofia.
CartaCapital: O Brasil é o segundo maior consumidor de Ritalina do mundo. A que se deve isso?
Wagner Ranña: No Brasil, a rede voltada para assistência aos problemas de saúde mental da criança e do adolescente é muito precária -- o que não é privilégio do Brasil, este problema afeta a quase todos os países. As crianças com dificuldades de comportamento, agitadas e irrequietas são vistas como doentes pelos profissionais da psiquiatria biológica e da neurociência, e então eles receitam remédios. Como consequência, temos um número elevadíssimo de crianças recebendo medicação, mas sem se discutir se ela é mesmo necessária ou se é a melhor forma de cuidado.
Na visão do nosso grupo de trabalho no Sedes Sapientiae, que tem um histórico no cuidado com a saúde mental da criança, é de tentar entender o sofrimento psíquico e os problemas de comportamento. E não ver isso de pronto como um problema, porque a maioria são só crianças agitadas. E, no mundo da rapidez, ironicamente, elas são colocadas como doentes. Estamos desperdiçando jovens que poderiam ser sujeitos muito ágeis, como atletas e músicos.
CC: Há efeitos colaterais no uso do remédio?
WR: Além de causar dependência, a Ritalina provoca muitos outros efeitos colaterais: as crianças emagrecem, têm insônia, podem ter dor de cabeça e enurese [incontinência urinária]. E, apesar de sua fama, não tenho uma experiência de eficácia da droga, mesmo em casos em que ela deveria ser usada. Percebo que o trabalho de terapia, de orientação e cuidado real com a criança dá muito mais resultado.
Começamos a passar para a criança a cultura de que um comprimido resolve tudo na vida, de que não existe mais solução pelo pensamento, pela conversa, pelo afeto e pela compreensão. O mundo todo é agitado, as pessoas são desatenciosas umas com as outras, e as crianças é que acabam tachadas de hiperativas.
Outra coisa, as crianças falam assim para mim: “eu sou um TDAH” ou “eu sou o da Ritalina”. Elas se colocam nesse lugar de alguém doente, com um déficit. A vida deles vira isso.
Tratar com drogas as crianças agitadas ou com dificuldade de aprendizagem é deixar de questionar o método de ensino, o consenso da escola, e a subjetividade da criança diante do aprendizado. É uma atitude muito imediatista.

Estamos desperdiçando jovens que poderiam ser sujeitos muito ágeis, como atletas e músicos / Crédito: Daniel Caron/FAS


CC: E quais são as alternativas ao tratamento com a droga?
WR: Tenho visto muitas crianças que, por trás da agitação, estão submetidas a uma violência, um abuso, ou a uma situação psicopedagógica não adequada. Colocar tudo como sendo um problema do cérebro da criança é muito antiético, é não levar em conta sofrimentos e as necessidades que ela está expressando.
Por exemplo, outro dia atendi uma menina que a mãe dizia ser hiperativa e precisava de Ritalina. Em cinco minutos de conversa descobri que ela tinha vivido uma situação em que o pai tentou matar a mãe. Essa criança estava angustiada, não era hiperatividade.
É claro que cada caso é um caso, há crianças realmente hiperativas e que precisam de um cuidado. Ainda assim têm muitas medicadas de maneira incorreta. E estamos vivendo umaepidemia de transtornos, ou supostos transtornos. Então além dessa medicalização excessiva, há uma falta de projetos terapêuticos para o sofrimento psíquico na infância, que é grande. Isso facilita a medicalização da infância, pois sem equipes treinadas é mais fácil só dar o remédio.
CC: Há quem exagere ou finja sintomas para conseguir a receita?
WR: Sou totalmente contrário o uso de questionários com pontos para o diagnóstico de sofrimento psíquicos [como fazem muitos psiquiatras]. Isso não é ver a criança eticamente. E os adolescentes podem fingir mesmo, porque querem tomar Ritalina para ter um bom desempenho na prova, ter mais energia para estudar.
A Ritalina é uma anfetamina associada a drogas com ação na atividade cerebral. A cocaína e as anfetaminas são consumidas por atletas que querem mais rapidez, pelos executivos que querem ficar acordados para trabalhar mais, pelos motoristas que querem fazer uma viagem e não dormir. É um verdadeiro doping.
Fonte: Carta Capital




Nenhum comentário:

Postar um comentário