quarta-feira, 21 de setembro de 2016

DIAGNÓSTICO NÃO É DESTINO - Fabricio Carpinejar teve diagnóstico de retardo. Mãe não aceitou e investiu em mais Amor e Dedicação, sem medicação psicotrópica

Fabricio, poeta e escritor, aos 7 (quase 8) anos foi convidado a sair da escola porque não conseguia ler e escrever





Por Fabrício Carpinejar· 
21.setembro.2016

DIAGNÓSTICO NÃO É DESTINO
Mãe é exagerada. Sempre romantiza a infância do filho. A minha, Maria Carpi, dizia que eu fui um milagre, que enfrentei sérias rejeições, que não conseguia ler e escrever, que a professora recomendou que desistisse de me alfabetizar e que me colocasse numa escola especial.
Eu permitia que contasse essa triste novela, dava os devidos descontos melodramáticos, entendia como licença poética.



Até que mexi na estante do escritório materno em busca do meu histórico escolar.
E achei um laudo, de 10 de julho de 1980, assinado por famoso neurologista e endereçado para a fonoaudióloga Zulmira.
“O Fabrício tem tido progressos sensíveis, embora seja com retardo psicomotor, conforme o exame em anexo. A fala, melhorando, não atingiu ainda a maturidade de cinco anos. Existe ainda hipotonia importante. Os reflexos são simétricos. Todo o quadro neurológico deriva de disfunção cerebral.”
Caí para trás. O médico informou que eu era retardado, deficiente, não fazia jus à mentalidade de sete para oito anos. Recomendou tratamento, remédios e isolamento, já que não acompanharia colegas da faixa etária.
Fico reconstituindo a dor dela ao abrir a carta e tentar decifrar aquela letra ilegível, espinhosa, fria do diagnóstico. Aquela sentença de que seu menino loiro, de cabeça grande, olhos baixos e orelhas viradas não teria futuro, talvez nem presente.
Deve ter amassado o texto no bolso, relido sem parar num cantinho do quintal, longe da curiosidade dos irmãos.
Mas não sentiu pena de mim, ou de si, foi tomada de coragem que é a confiança, da rapidez que é o aperto do coração. Rejeitou qualquer medicamento que consumasse a deficiência, qualquer internação que confirmasse o veredito.
Poderia ter sido considerada negligente na época, mas preferiu minha caligrafia imperfeita aos riscos definitivos do eletroencefalograma. Enfrentou a opinião de especialistas, não vendeu a alma a prazo.
Ela tirou licença do trabalho para me ensinar a ler e escrever, criou jogos para me divertir com as palavras e dedicou seus dias a aperfeiçoar minha dicção.
Em vez de culpar o destino, me amou mais.
Na vida, a gente somente depende de alguém que confie na gente, que não desista da gente. Uma âncora, um apoio, um ferrolho, um colo. Se hoje sou escritor e escrevo aqui, existe uma única responsável: Maria Carpi, a Mariazinha de Guaporé, que transformou sua teimosia em esperança. E juro que não estou exagerando.



Trechos do video:
(...) existe ainda hipotonia importante, os reflexos são simétricos, todo o quadro neurológico deriva de disfunção cerebral.

O depoimento da mãe:
"Fui chamada na escola porque inguém conseguia alfabetizá-lo. Inclusive, houve uma recomendação de que ele necessitaria ir para uma escola especial.E me pediram exames neurológicos. Eu fiz, mandei fazer 2 eletro (EEG - eletroencefalograma)... e não dei bola pros mesmos, porque o Fabricio é muito criativo, desde pequeno, muito emotivo, descobria coisas poéticas na natureza e alfabetizei ele com poesia!"

Declaração de Fabrício:
A mãe pediu licença no trabalho, ensinou-o a ler e escrever com jogos "jogo da amarelinha, bambolê, detetive, e eu nem sabia que tava aprendendo..." diz Fabricio "...porque parecia que minha mãe era só pra mim! Durante 2 meses! Em 2 meses aprendi a ler e escrever. E eu cheguei na escola melhor do que os meus colegas. E aí, tu aprende uma grande lição:
AMOR tu aprende sozinho. LEALDADE tu aprende sozinho. AMIZADE tu aprende sozinho. Mas FÉ, não! Fé precisa alguém passar pra ti! Eu sou filho da Fé da minha mãe, minha mão me ensinou que diagnóstico não é destino. Destino tem garra, fé, persistência. Então, eu tô aqui, eu sou escritor, porque alguém não desistiu de mim, a Mariazinha de Guaporé não desistiu de mim e me ensinou a não desistir nunca daquilo que sonho.










Fabrício Carpi Nejar, ou Fabricio Carpinejar, como passou a assinar a partir de 1998, é um poeta, cronista e jornalista brasileiro.



publicado neste blog: http://tdahcriancasquedesafiam.blogspot.com.br/2016/09/diagnostico-nao-e-destino-fabricio.html




Gratidão a todas as mães que acreditam em seus filhos e parabéns ao filho que tão bem reconhece o esforço amoroso de uma mãe dedicada!



 Marise Jalowitzki é educadora, escritora, blogueira e colunista.Especialista em Desenvolvimento Humano, defensora de uma infância saudável, antimedicalização. Escritora, blogueira e colunista. Palestrante Internacional, certificada pelo IFTDO - Institute of Federations of Training and Development, com sede na Virginia-USA. Especialista em Gestão de Recursos Humanos pela Fundação Getúlio Vargas. Criou e coordenou cursos de Formação de Facilitadores - níveis fundamental e master. Coordenou oficinas em congressos, eventos de desenvolvimento humano em instituições nacionais e internacionais, escolas, empresas, grupos de apoio, instituições hospitalares e religiosas por mais de duas décadas Autora de diversos livros, todos voltados ao desenvolvimento humano saudável. marisejalowitzki@gmail.com 
blogs:
www.compromissoconsciente.blogspot.com.br


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